Gianpaolo Anselmi fala-nos de como a tecnologia pode contribuir para a sustentabilidade da água e, em última instância, para um mundo melhor.
Gianpaolo formou-se em Engenharia Mecânica na Universidade de Pádua, ingressando imediatamente no departamento de qualidade da Nuovo Pignone S.p.A. A sua entrada no grupo SIT aconteceu em 1988, para assumir o cargo de diretor de Marketing. Deste então, é no grupo SIT que Gianpaolo tem trilhado o seu caminho profissional.
Atualmente, é o diretor-geral da JANZ, empresa do grupo SIT desde janeiro deste ano. Gianpaolo acredita que o setor da água tem agora uma grande oportunidade para contribuir para a sustentabilidade hídrica e que a transição digital do setor está para breve.
Como é que a tecnologia pode contribuir para a sustentabilidade da água e mudar este setor no século XXI?
O recurso hídrico é um recurso escasso e estratégico. A evolução demográfica, a crescente urbanização e as alterações climáticas são fatores que contribuem para submeter o recurso hídrico a um stress sem precedentes, no mundo e na Europa. Já hoje 25% da população mundial está em condição de stress hídrico.
Algumas pesquisas dizem-nos que globalmente:
- >2,2 mil milhões de pessoas não têm acesso à água potável (28,2% da população)
- >4,2 mil milhões de pessoas carecem de sistemas de purificação seguros, essenciais para limitar ou prevenir a propagação de doenças (53,8% da população)
- > 40% dos lares no mundo não possuem lavatórios.
O Sustainable Development Goal 6 (SDG 6) da agenda 2030 da ONU, exige garantir o acesso à água e ao saneamento para todos. Como vimos, estamos muito distantes desse objetivo e somente uma transformação do setor hídrico, usando todas as tecnologias disponíveis pode ajudar nesse sentido.
Quando falamos em transição digital no setor de água, falamos principalmente sobre a implementação de sistemas de telemetria e gestão remota. Como pode esta transformação ajudar Portugal a recuperar da catástrofe económica e social provocada pela Pandemia?
A sustentabilidade da água pode dar uma dupla contribuição para o sistema do país, estimulando investimentos e, ao mesmo tempo, garantindo o impulso para a inovação sustentável.
Em alguns países, quatro prioridades foram identificadas para promover a sustentabilidade hídrica ao longo de toda a cadeia de abastecimento de água:
> Racionalização do uso da água
> Maior reciclagem / reutilização de água
> Racionalização da produção de águas residuais não recuperáveis
> Eficiência dos sistemas de monitorização do uso da água
Utilizando sistemas de telemetria e telegestão é possível controlar com precisão as redes de distribuição e assim facilitar o cumprimento de todos os objetivos acima mencionados.
O Gianpaolo vem de um grupo cujo eixo de atuação é o setor de medição inteligente de gás. O setor de energia está um passo à frente no que diz respeito à transição digital, quando comparado ao setor de água?
Estatísticas mundiais mostram que o setor da água é o último em termos de tecnologias e transformação digital. Os contadores inteligentes cobrem apenas 9% do parque total instalado, enquanto os contadores de gás representam 11% e os contadores elétricos inteligentes 31%. Alguns países já decidiram adoção obrigatória de contadores inteligentes para gás e eletricidade. Não conheço nenhum país com a mesma decisão para a água.
Acha que os setores da água e do gás podem aprender um com o outro?
Algumas tecnologias para contadores inteligentes de água e gás são exatamente as mesmas como é o caso, por exemplo, das relacionadas com a comunicação. A parte metrológica é específica, mas também nesta área a experiência do gás permite importantes sinergias tecnológicas. Um dos motivos estratégicos da entrada da SIT no setor hídrico é justamente a possibilidade de explorar o knowhow já desenvolvido para o gás também para o setor hídrico. Muito se tem falado sobre o potencial de implementação de sistemas de telemetria no setor da água. Neste contexto, especificamente em Portugal, ainda há um longo caminho a percorrer.
Acha possível estar a ser criada alguma resistência na disseminação dos sistemas de telemetria no setor?
A introdução da telemetria requer investimentos importantes e este é provavelmente o principal obstáculo para uma introdução rápida desta nova tecnologia. No entanto, os investimentos necessários diminuem todos os anos e a experiência já adquirida na área da eletricidade e do gás a nível mundial pode ajudar países como Portugal a fazerem as escolhas corretas, em termos de tecnologia e abordagem de mercado, para uma implementação eficaz e mais fácil das novas tecnologias.
Recuperação e sustentabilidade são as palavras de ordem quando se trata de planos de recuperação pós-pandemia. Acredita que o setor da água em geral está preparado para fazer uma transição digital e aproveitar todo o seu potencial para contribuir para um país / mundo mais sustentável e resiliente?
O setor da água tem agora uma grande oportunidade para contribuir para um mundo melhor. Num cenário pressionado do ponto de vista ambiental e socioeconómico, e profundamente alterado devido à emergência sanitária, a União Europeia tenta dar as respostas necessárias a um reinício resiliente e sustentável.
Além do plano Next Generation EU, existem inúmeras iniciativas nascidas no contexto europeu e em linha com o Acordo Verde, relevantes para o setor da água.
Por isso, estou confiante de que em breve veremos investimentos importantes para o setor da água e eles permitirão a transição digital que almejamos.